Você conhece as Designer Drugs? – 23.03.2017
Um relatório lançado pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE) mostra de forma regionalizada a situação das drogas lícitas e ilícitas em diversas partes do mundo. Em termos mundiais, o estudo mostra um aumento de admissões em salas de emergência e de ligações para centros de toxicologia em decorrência de novas substâncias psicoativas. Entre elas, muitas drogas legais e as chamadas designer drugs – drogas cujas fórmulas químicas são ligeiramente alteradas para evitar o enquadramento delas como substância ilícita, mas que mantêm o seu princípio ativo.
Há, segundo a JIFE, centenas de design drugs sendo vendidas com facilidade na internet. A tendência é que esse tipo de droga cresça de forma constante. A JIFE informa que essas substâncias representam uma ameaça à saúde pública e que são necessárias ações conjuntas dos países para prevenir sua fabricação, tráfico e uso. Apesar de, nos últimos anos, o uso de drogas ilícitas ter se estabilizado na Europa, ele ainda se mantém em nível considerado alto e o grande desafio do continente é o consumo das novas substâncias psicoativas. O número de sites que vendem essas drogas para países da União Europeia aumentou mais de quatro vezes em dois anos.
— O que é e o que provoca
As chamadas designer drugs (drogas planejadas, ou seja, análogos estruturais) estão entre as drogas de abuso mais utilizadas no Ocidente. Seus efeitos psicotrópicos específicos, que fundamentam sua utilização como drogas de abuso, são descritos como capacidade aumentada da comunicabilidade, empatia e autoconhecimento, o que distingue esta classe de compostos das substâncias estimulantes e alucinógenas propriamente ditas, que produzem estados de euforia e agitação e, alucinações visuais e auditivas, respectivamente.
Para compreender o que é a maconha sintética e o que são os Sais de Banho e como estes apareceram, você tem que saber o que é uma “designer drug”. Uma “designer drug” é uma versão sintética (produzida quimicamente) de uma droga ilícita que foi levemente alterada para evitar que seja classificada como ilícita. Essencialmente, esta é uma experiência feita por um químico para criar uma nova droga que pode ser vendida de forma lícita (na Internet ou em lojas), permitindo que os traficantes façam dinheiro sem violar a lei. À medida que a polícia consegue apreender estas novas substâncias químicas e fazer com que sejam reconhecidas como ilícitas, os fabricantes inventam versões alteradas para burlar a lei. E assim, o ciclo se repete.
Algumas destas drogas são vendidas pela internet ou em certas lojas (como “material para cigarros de ervas”), enquanto outras são disfarçadas em produtos rotulados como “impróprio para consumo” (tais como “incenso de ervas”, “fertilizante”, “sais de banho” ou “limpa joias”) para mascarar seus propósitos e intenções e evitar regulamentos de saúde e segurança.
A utilização de substâncias psicoativas é antiga na história da civilização, as primeiras experiências humanas ocorreram por meio do consumo de plantas. A partir do século XIX, o homem isolou princípios ativos vegetais como morfina, cocaína e efedrina. Porém, foi no final do século passado, com o surgimento das anfetaminas, que uma substância psicoativa foi totalmente sintetizada em laboratório. Com o aparecimento das drogas sintéticas, nos anos 80, ocorreu a popularização das designer drugs.
Essas drogas têm como característica essencial o fato de terem sido modificadas em laboratório, com o intuito de potencializar ou criar efeitos psicoativos ou evitar efeitos indesejáveis, além de burlar a legislação vigente. Além disto, a disponibilidade e a diminuição do custo tecnológico permitem que tais drogas sejam sintetizadas com facilidade em laboratórios clandestinos domésticos.
Nos anos 90, com a popularização da internet, houve uma enorme divulgação e distribuição das designer drugs. Entretanto, foi na primeira década do século XXI que o número de novos usuários de substâncias ilícitas aumentou de forma significativa, com relatos da apreensão de diversas designer drugs em todo o mundo.
As designer drugs mais utilizadas são os compostos anfetamínicos, tais como 3,4-metileno-dioxi-anfetamina (MDA), 3,4-metileno-dioxi-metanfetamina (MDMA, ecstasy), p-metoxi-anfetamina (PMA) e p-metoxi-metanfetamina (PMMA). No Brasil, o uso recreacional tem sido constatado em vários pacientes que buscam tratamento nas clínicas de reabilitação, além de apreensões destas drogas, sendo, portanto, de grande relevância sua correta identificação e/ou quantificação para fins clínicos e forenses.
— Maconha sintética não é um “barato natural”
A maconha sintética, mais comumente conhecida como Spice ou K2, é uma mistura de ervas e especiarias que é borrifada com uma substância química que parece com THC, o ingrediente que altera a mente e que está presente na maconha. Muitas vezes, anuncia-se falsamente que drogas sintéticas como Spice e K2 dão baratos “seguros”, “naturais” e “lícitos”. A verdade é que elas são tecnicamente ilícitas e sem dúvida não são naturais nem seguras.
Análises químicas têm mostrado que, em todos os casos, os ingredientes ativos presentes nessas drogas são substâncias químicas sintéticas que produzem efeitos tóxicos perigosos. Além disso, como a composição química dos produtos vendidos como Spice ou K2 é desconhecida, os usuários não fazem ideia de que substâncias químicas estão ingerindo nem de quais serão os efeitos. E, como pode haver variação na quantidade de ervas e especiarias borrifadas, a potência pode ser extremamente variada.
A maconha sintética parece-se com folhas secas e, habitualmente, é vendida em saquinhos plásticos prateados como “incenso de ervas” ou “pot-pourri”. Também é promovida em forma líquida para ser usada em vaporizadores. Muitas vezes, esta é enrolada em becks, colocada em cachimbo ou em cigarros eletrônicos, e alguns usuários a tomam como chá ou a assam em brownies. Esta também costuma ser usada por meio de inalar seus vapores ou é consumida em forma líquida.
Efeitos de maconha sintética a longo prazo | |||
Efeitos na Mente:
• Insensibilidade
• Perda de consciência
• Confusão mental
• Percepção temporal alterada
• Ansiedade extrema
• Ataques de pânico
• Paranoia severa
• Delusões
• Alucinações
• Psicose
• Suicídio potencial
• Alguns usuários, sob a influência de maconha sintética, estiveram envolvidos em homicídios.
|
Efeitos no Corpo:
• Náusea e vômito
• Suor intenso
• Movimentos incontrolados/espasmódicos do corpo
• Insuficiência renal aguda
• Aceleração do batimento cardíaco
• Pressão alta
• Redução do fornecimento de sangue ao coração
• Ataque cardíaco
• Espasmos
• Convulsões
• Derrame
|
Substâncias químicas vendidas como “Sais de Banho” não são sais de banho para uso na banheira, mas sim drogas tóxicas cujos efeitos são imprevisíveis.
Muitas dessas substâncias foram proibidas nos EUA devido aos seus efeitos nocivos, então os traficantes chamam-nas de Sais de Banho e de outros nomes para burlar a lei. Também são anunciadas falsamente como “fertilizantes”, “limpador de joias”, “limpador para tela” e rotulados como “impróprio para consumo” para evitar serem detidos.
Os Sais de Banho não são uma droga em particular, mas sim um grupo de substâncias similares, versões produzidas quimicamente de um tipo de droga encontrada na planta Khat, um arbusto da África Oriental e da Península Arábica. Da mesma forma que o Spice e o K2 referem-se à maconha sintética, os Sais de Banho referem-se a estimulantes sintéticos. Eles também podem produzir alucinações como as do LSD.
Os Sais de Banho muitas vezes contêm uma mistura variada de substâncias químicas, portanto, mesmo que os pacotes pareçam iguais, nunca se sabe o que o produto realmente contém. Geralmente é vendido na forma de pó que vem em pacotinhos de plástico ou de alumínio. Pode ser branco, esbranquiçado, amarelo ou marrom e também pode ser vendido em cápsulas ou comprimidos, ou em frascos na forma líquida.
Os usuários informaram que o aspiravam, injetavam ou misturavam na comida ou na bebida. Isto pode incluir embrulhar a droga em papel de cigarro e depois engolir, introduzi-la no reto, inalá-la usando um vaporizador ou fumá-la.
— Sais de Banho: Efeitos a curto prazo
O que acontece muitas vezes com os usuários depois de consumirem os Sais de Banho são: surtos de violência e psicóticos e atentados contra a vida.
Efeitos na Mente:
Efeitos no Corpo:
• Erupção cutânea
• Odor de mefedrona (a pessoa cheira a mefedrona, uma droga usada em Sais de Banho)
• Sensação de formigamento na pele
• Suor excessivo
• Febre alta
• Perda de apetite
• Disfunção sexual
• Sangramento no nariz e “sensação de queimação no nariz”
• Dor no fundo da boca
• Zumbido nos ouvidos
• Ranger excessivo dos dentes
|
• Cãibras ou tensão muscular
• Dormência/formigamento
• Tonturas
• Visão embaçada
• Movimento rápido e involuntário dos olhos
• Náusea e vômito
• Dores no peito e ataques cardíacos
• Dores de cabeça
• Convulsões
• Hérnia cerebral (aumento de pressão dentro do crânio que pode causar morte)
|
— Sais de Banho: Efeitos a longo prazo
Os Sais de Banho podem causar danos a longo prazo e permanentes, incluindo:
Um estudo de 2013 constatou que uma das substâncias mais usadas nos Sais de Banho, conhecida como MDPV (3,4 metilenodioxipirovalerona), era altamente capaz de causar dependência – é possível que seja ainda mais que a metanfetamina, uma das drogas que causa mais dependência hoje em dia.
Cerca de 23.000 entradas nos prontos-socorros dos EUA em 2011 foram devido aos Sais de Banho. Outro estudo realizado no meio-oeste americano revelou que mais de 16% dos pacientes enviados para prontos-socorros devido ao uso de Sais de Banho estavam em condições críticas ou mortos. Os efeitos adversos de MDPV podem durar de 6 a 8 horas depois de ter sido consumido e há relatos de que esta substância causa ataques de pânico de longa duração, psicose e mortes.
Visão pessoal…
Devido ao crescimento constante do número de substâncias químicas que são criadas, os usuários das “designer drugs” não têm como saber quais elementos constituem as drogas que ingerem. Além disso, como uma pequena modificação de uma droga conhecida pode resultar – o que muitas vezes acontece – numa nova droga com efeitos muito diferentes, os usuários não têm como prever o impacto que estas substâncias causam na sua saúde quando a experimentam. Nos Estados Unidos, cerca de 200 a 300 “designer drugs” novas foram identificadas entre 2009 e 2014, e a maioria delas foi fabricada na China. Mais de 650 “designer drugs” novas inundaram a Europa no ano passado. Algumas contêm substâncias químicas que ainda não foram completamente identificadas e cujos efeitos no corpo e mente humanos são desconhecidos. Os medicamentos também são drogas usadas para acelerar, diminuir ou mudar alguma função do corpo para tentar fazê-lo trabalhar melhor. Algumas vezes são necessários. Mas, ainda assim, não deixam de ser drogas: atuam como estimulantes ou sedativos, e uma grande quantidade pode matar. Então, se você não utiliza os medicamentos da forma como devem ser utilizados, podem ser tão perigosos como as drogas ilícitas. Uma mentira sobre as drogas é que elas ajudam uma pessoa a ficar mais criativa. A verdade é completamente diferente. Alguém que está triste poderia usar drogas para obter um sentimento de felicidade, mas não funciona. As drogas podem dar um falso contentamento à pessoa, mas quando o efeito da droga se dissipa, ela fica numa situação muito pior do que antes. A cada vez, o mergulho emocional é cada vez mais profundo. No final, as drogas vão destruir completamente a criatividade da pessoa. As drogas só vão acabar quando acabarem os consumidores; por essa razão, a informação é a melhor de todas as armas contra elas, e a conscientização, o autoconhecimento e a educação são os caminhos para acabar com elas de vez.
(Nota Gilberto – Cabe lembrar que, um indivíduo que tenha qualquer tipo de vício, baixa tanto sua vibração que atraí inúmeros obsessores)
Inspiração…
Referências acadêmicas
1. Gahlinger, P.; Illegal Drugs: A Complete Guide to Their History, Chemistry, Use and Abuse, 1st ed., Sagebrush: Salt Lake City, 2001.
2. Costa, J. L.; Dissertação de Mestrado,Universidade de São Paulo, Brasil, 2004.
3. Gilman, A. G.; Goodman & Gilman’s: the Pharmacological Basis of Therapeutics,10th ed., McGraw-Hill: New York, 2001.
Synthetic/Designer Drugs – What are they?
Designer Drugs: A Synthetic Catastrophe – Journal of Reward
Designer Drugs: Aspectos Analíticos e Biológicos – Química Nova
Recomendo…
Fonte – Monicavox