Nossos medos universais… – 17.03.2017
É bem possível que você já tenha pensado sobre os relacionamentos que estabeleceu até hoje. Em suas considerações, sem dúvida já fez descobertas valiosas sobre quais pessoas desencadearam certas emoções em você e por quê. De fato, seu conhecimento de si mesmo deve ser tão bom que poderia até lhe permitir acertar respostas a quesitos propostos em um questionário médico sobre sua vida e seu passado, e suas conclusões provavelmente estariam certas para cada resposta, por mais variado que o teste pudesse ser. E com tudo isso, é bem possível que deixasse de perceber o mais importante e profundo padrão de procedimento de sua vida, aquele que tem lhe acompanhado desde o início de sua existência.
É exatamente por essa razão que é interessante fazer um questionário para identificar as características que consideramos mais marcantes e “negativas” naqueles que tomaram conta de nós quando crianças. Perguntamos pelas características negativas, porque raramente vemos alguém atrapalhado com os padrões de procedimento positivo que encontraram na vida. Quase sempre, as situações que fazem as pessoas se sentirem paralisadas estão enraizadas no que se consideraram sentimentos negativos.
Essas são as emoções despertadas por nossas próprias experiências e pelo significado que elas têm para nós. Ainda que não se possa alterar o que já aconteceu, é possível entender a razão de nossos sentimentos e mudar o significado da história de nossa vida. Para muitos de nós, eram os pais naturais o problema, enquanto para outros, eram os pais adotivos/cuidadores. Para alguns eram os irmãos mais velhos, as irmãs, outros parentes ou amigos da família. Não importa quem fosse, a questão era identificar quem tinha cuidado de nós durante nossos anos de formação, isto é, até a puberdade.
— Zangado; Indiferente; Inacessível; Crítico; Intolerante; Abusivo; Ciumento; Rigoroso; Controlador; Ausente; Medroso; Desonesto;
Quantas pessoas com passados tão diferentes têm passado por uma experiência como essa? A resposta a esse mistério é o padrão que percorre os meandros profundos do tecido de nossa consciência coletiva, que pode ser descrito como nosso medo nuclear ou universal. Os padrões universais de medo podem ser tão sutis em sua manifestação, mas ao mesmo tempo tão dolorosos ao vir à mente que, habilidosamente, criamos máscaras para torná-los mais suportáveis.
De uma maneira semelhante ao modo como certas memórias familiares difíceis são raramente mencionadas, inconscientemente pactuamos disfarçar as feridas de nosso passado coletivo de maneira a fazê-lo mais aceitável socialmente. Somos tão bem-sucedidos em esconder nossos maiores medos que, para todos os fins e propósitos, as razões originais de nossas feridas são esquecidas e tudo o que resta é como elas se expressam, isto é, como extravasam.
Devido às estratégias que empregamos para mascarar nossos medos, jamais somos obrigados a falar sobre as feridas mais profundas de nossa existência. Mesmo assim, elas continuam nos fazendo companhia, com persistência e sem serem resolvidas, até que alguma coisa acontece e não podemos mais, simplesmente, olhar para outro lado. Quando nos permitimos aprofundar um pouco na análise desses momentos intensos e não-camuflados da vida, acabamos descobrindo que, por mais diferentes que nossos medos pareçam ser, eles terminam por convergir para apenas um dos três padrões básicos seguintes (ou uma combinação deles): o medo da separação ou do abandono, o medo do desmerecimento e o medo de se entregar e confiar.
Exploremos um por um esses medos…
— Nosso Primeiro Medo Universal: A Separação ou Abandono
Praticamente sem exceções, existe um sentimento que toma conta de nós quando ficamos sozinhos. Dentro de cada pessoa e família há uma sensação não expressa verbalmente de que existimos separadamente de quem quer que seja responsável por nossa existência. Percebemos, nos nebulosos recônditos de nossa memória remota, que fomos trazidos até aqui e então abandonados, sem que fosse dada uma explicação ou razão. E por que deveríamos esperar que fosse diferente? Na presença da ciência que colocou um homem na Lua e traduz o código genético, realmente ainda não sabemos quem somos.
Também não sabemos como viemos parar aqui. Sentimos no íntimo nossa natureza espiritual, enquanto, ao mesmo tempo, procuramos validar nossos sentimentos. Da literatura, do cinema, da música e da cultura, fazemos a distinção entre os nossos lugares aqui na Terra e um distante céu em algum outro lugar. No Ocidente, estamos habituados a separar a criatura do Criador, como vemos ao examinar a tradução da oração da Bíblia que descreve justamente essa relação: o Pai-Nosso. Por exemplo, a tradução ocidental usual começa assim: “Pai nosso que estais no céu”, ou seja, reconhece que a separação existe.
Nessa interpretação nós estamos “aqui”, ao passo que Deus está em algum lugar muito distante. No entanto, os textos aramaicos originais oferecem uma visão diferente para nosso relacionamento com o Pai Celestial. Uma das traduções para a mesma frase diz o seguinte: “Uno Radiante, Vós que brilhais em nós e fora de nós – até mesmo a escuridão brilha – ao lembrarmo-nos de Vós” , reforçando a ideia do Criador não estar distante e separado de nós. Em vez disso, a força criativa de nosso Pai – seja lá qual for o significado que nós lhe dermos – não somente está conosco; somos nós e permeia tudo que conhecemos como sendo nosso mundo.
A descoberta em 2004 do Código de Deus e a mensagem vinda da tradução do DNA de todos os seres vivos nas letras do antigo hebraico e dos alfabetos árabes, aparentemente, apoiam essa tradução. Quando seguimos as indicações que nos foram deixadas no livro mítico do século I Sepher Yetzirah, por exemplo, descobrimos que cada um dos elementos que compõem nosso DNA corresponde a uma letra daqueles alfabetos. Ao fazermos as substituições, descobrimos que a primeira camada do DNA do nosso corpo, ao que tudo indica, apóia a admoestação que fala sobre a grande inteligência que está em toda parte, inclusive dentro de nós.
No DNA humano literalmente se lê: “Deus/eterno dentro do corpo”. Nas ocasiões em que sentimos medo, mesmo sem estarmos conscientes do que precisamente ocorre, nosso corpo cria certa tendenciosidade emocional, experiência muitas vezes descrita como a de estarmos “carregados” ou “uma pilha de nervos”. Isso aparece para nós como as convicções firmes que temos quanto a estarmos “certos” ou “errados” a respeito de alguma coisa, ou sobre como determinada situação “deveria” se desenrolar. Nossas cargas emocionais e excitações nervosas nos prometem que criaremos os relacionamentos que nos mostrarão qual medo precisa desaparecer. Em outras palavras, essas cargas emocionais nos mostram nossos medos: quanto mais elevada for, maior o medo que nos assalta. E raramente essas emoções se enganam.
Assim, se conscientemente não lhe ocorrer a lembrança de seu medo de separação e abandono, existe boa possibilidade de que esse medo se revele mais tarde, da maneira mais inesperada e no momento mais inconveniente. Em suas experiências de romances, carreira e amizades, qual sua sensação? É a de ser aquele que “abandona” ou aquele que é “abandonado”? Você é do tipo que é o último a saber que um relacionamento terminou? Os casamentos, empregos e amizades “perfeitos” parecem desmoronar diante de seus olhos, sem aviso algum e aparentemente sem nenhum motivo? Você fica devastado quando esses relacionamentos se rompem e falham? Ou talvez com você aconteça o contrário. Seu hábito é o de abandonar relacionamentos, carreiras e amizades enquanto os laços estão fortes justamente para evitar ser ferido?
Algumas vezes você se surpreende dizendo: “Seria melhor que eu desistisse agora, enquanto as coisas estão boas, antes que alguma coisa aconteça e eu me machuque”. Se esse for o cenário que já aconteceu ou que está acontecendo agora na sua vida, há uma boa possibilidade de que esse seja seu modo, magistralmente criado e socialmente aceitável, de mascarar seus medos profundos do abandono e da separação. Pela repetição desses padrões de relacionamento, seu medo pode ser reduzido a um nível administrável. Pode até levá-lo por toda a vida. O outro lado da moeda é que o sofrimento tomou um desvio. Transformou-se no seu modo de não encarar o medo universal de que você foi separado da plenitude de seu Criador, abandonado e por fim esquecido. Como é que você espera encontrar o amor, a confiança e a proximidade tão ansiados se você está sempre partindo ou sendo deixado para trás, justamente quando você se aproxima?
— O nosso Segundo Medo Universal é a Baixa Auto-estima
Quase universalmente existe um sentimento em toda pessoa de todas as culturas e sociedades do mundo de que, de alguma maneira, não somos suficientemente bons. Sentimos que não merecemos reconhecimento pelas contribuições que damos à nossa família, comunidade e locais de trabalho. Sentimos que não valemos o bastante para sermos honrados e respeitados como seres humanos. Algumas vezes até nos surpreendemos com o sentimento de que não somos suficientemente bons para estarmos vivos. Conquanto o sentimento de baixa auto-estima nem sempre seja consciente, ele está continuamente presente e fundamentando a maneira de abordarmos a vida e os relacionamentos com outras pessoas.
Como mestres da sobrevivência emocional, frequentemente nos encontramos criando cenários na vida real equivalentes aos valores imaginários que atribuímos a nós mesmos. Por exemplo, todos nós temos sonhos, esperanças e aspirações de realizar mais em nossa vida embora, frequentemente, racionalizemos os porquês de não o fazermos.
— O nosso Terceiro Medo Universal é o Medo de se Entregar e Confiar
Você alguma vez já experimentou um relacionamento de qualquer tipo em que o nível de sua confiança foi tão completo que se sentiu disposto a abrir mão da sua própria individualidade em troca do conhecimento de uma maior? Para ser mais específico quanto a isso, não estou sugerindo que alguém abra mão de si próprio e de toda energia individual em situação alguma. Pelo contrário, a experiência que sugiro fazer é uma em que o sentimento do próprio eu é tão fortalecido que a pessoa se permite abrir mão de crenças pessoais sobre quem é ou deveria ser, na expectativa de uma troca por vir a ser, potencialmente, muito mais. É quase universal a sensação que temos no nosso íntimo de que não é seguro optar por isso, não é seguro confiar a outras pessoas o saber de nosso corpo, ou a paz de nosso mundo.
E por que deveríamos pensar de outra maneira? Não precisamos procurar além das notícias do jornal diário para ter mais razões capazes de justificar nossos sentimentos. Todos os dias nos mostram exemplos de comportamentos que parecem justificar, e até mesmo perpetuar, a sensação de que vivemos em um mundo assustador e perigoso. Este planeta que chamamos de nossa casa tem cenas de terror, assassinatos e assaltos sem limites diariamente, além de violações de confiança, traições experimentadas pessoalmente e a miríade de preocupações com a saúde para as quais somos alertados todos os dias, de tal maneira que certamente acaba nos parecendo um lugar assustador.
Em última análise, nossa sensação de segurança no mundo deve vir da segurança que sentimos dentro de nós. Para experimentarmos isso, devemos confiar e perguntar se temos fé na inteligência do universo, manifesta em todas as situações e que surge ao longo da vida. Se respondermos não a essa pergunta deveremos nos perguntar: Por quê? Quem ou qual experiência nos ensinou que o mundo não é um local seguro e que não é certo confiar? Por exemplo, você crê no processo da vida? Quando descobre que o universo pregou uma peça em você, em um ente querido, em seu animalzinho de estimação, você logo atribui a culpa a alguém para se sentir protegido? Quando seus filhos saem para a escola de manhã você se preocupa, acha que eles não estarão seguros ou, ao contrário, sente que estarão em segurança e continua acreditando nisso até a hora em que eles voltam sozinhos da escola?
Ainda que todas as coisas assustadoras que nos cercam hoje sejam parte da realidade, o segredo para superarmos nossos medos é saber que elas não precisam necessariamente ser parte da nossa realidade. Mesmo que isso soe como uma filosofia ingênua da Nova Era trata-se, na realidade, de uma crença bastante antiga que ultimamente vem sendo apoiada pelos mais avançados estágios da ciência. Sabemos que a Matriz Divina existe e que ela reflete nossos pensamentos, sentimentos, emoções e crenças em nossa vida, coração e mente. Temos conhecimento de que uma sutil mudança no modo de nos enxergarmos é tudo o que é precisamos para mudar nosso coração, desempenho profissional e relacionamentos. E é nesse ponto que a natureza perniciosa do círculo vicioso do medo se torna aparente.
A origem de nossas experiências “negativas” pode ser reduzida a um dos três medos universais (ou a uma combinação deles): abandono, baixa auto-estima e falta de confiança. Se quisermos que alguma coisa mude, temos que romper o círculo e dar à Matriz alguma coisa diferente para ela refletir. Parece simples, não é mesmo? Pode ser simples, mas podemos ficar decepcionados; não é fácil mudar o modo pelo qual nos vemos. Talvez seja uma das coisas mais difíceis da vida. Por causa de nossas crenças interiores, enfrentamos a grande batalha, o grande desafio de todo ser humano, ou seja, a luta cujo resultado irá definir quem acreditamos ser. Na presença de todas as razões que temos para não confiar, recebemos o pedido para encontrarmos uma saída da prisão na qual nosso medo nos trancou. Todos os dias as experiências da vida nos pedem para que demonstremos o quanto podemos confiar … não confiar cegamente sem uma razão válida, mas realmente sentir a segurança material e pessoal que nos pertencem neste mundo.
Como podemos ver, a emoção é uma linguagem em si mesma, e é a própria linguagem à qual a “Matriz Divina” – nosso DNA – é capaz de responder. Nas ocasiões em que nos sentimos como se não pudéssemos alcançar nossos maiores sonhos, a Matriz simplesmente nos devolve aquilo que estivemos usando diariamente: atrasos, provocações e obstáculos. Ainda que possamos estar querendo alcançar grandes coisas, a dúvida que vem muito profundamente de dentro de nós, em última análise, provém de nossa baixa auto-estima. A pergunta que nos fazemos é: Sou suficientemente bom para ter essa alegria em minha vida? E por que deveríamos esperar que nos sentíssemos de outra forma? Na tradição ocidental judaico-cristã, o que nos dizem aqueles em quem confiamos e respeitamos é que, de certo modo, somos seres “de menor importância”. Não somos tão bons quanto os “anjos dos céus” ou quanto os “santos” que nos dão lições. Essa mesma tradição convenceu muitas pessoas de que, apenas pelo fato de estarmos neste mundo, precisamos nos redimir da vida propriamente dita por razões que nos dizem estar além de nossa compreensão. Há 2.000 anos somos comparados à memória editada, condensada e preferida da vida de Jesus, com a antiga história de um homem com quem jamais poderemos nos equiparar com esta consciência vigente. Algumas vezes a comparação é acompanhada de sérias admoestações, sugerindo que poderemos ser condenados a uma pós-vida bastante dura se não vivermos de determinado modo. Algumas vezes ouvimos algo mais leve, simplesmente nos lembrando de nossa inadequação por meio de perguntas tais como: “Quem você está pensando que é, Jesus Cristo?” ou então, “Como você vai chegar lá … andando sobre as águas?” Quantas vezes já ouvimos observações semelhantes, significando que por melhor que a gente faça durante a vida toda nunca seremos tão bons ou valeremos tanto quanto o Mestre do passado? Ainda que não levemos a sério tais comentários, lá bem no fundo eles nos lembram que de algum modo não merecemos ter as maiores alegrias nesta vida. Mesmo que sua auto-estima seja elevada, até um determinado ponto você pode ser levado a acreditar nessas sugestões. Finalmente, é provável que todos acreditem, pelo menos um pouco. E como resultado disso, expressamos nossas crenças por meio de expectativas de nossas conquistas, da alegria que nos permitimos ter e dos sucessos que esperamos dos nossos relacionamentos. Nosso medo de não ter bastante valor para ter amor, aceitação, saúde e longevidade promete que cada um de nossos relacionamentos refletirá o medo da baixa auto-estima. E acontece de maneiras que nós nunca poderíamos esperar nem em um milhão de anos. Se esses cenários ou outros semelhantes já se desenrolaram na sua vida é bem provável que eles sejam as máscaras criadas habilidosamente para você questionar seu próprio valor. Medite sobre seus relacionamentos pessoais e profissionais, e de suas crenças íntimas acerca de si próprio, crenças que pedem uma cura mais eficaz….
Inspiração
A Matriz Divina – Gregg Braden
Auto-estima, Autoconfiança e Responsabilidade – ITCR
Medo Líquido – Zygmunt Bauman – PDF
Confiança e Modernidade: Uma abordagem sociológica – Emerj
Recomendo…
Fonte – Monicavox