Mente espiritual: Esse é seu cérebro durante uma experiência religiosa… – 12.12.2016
Uma experiência religiosa ou espiritual ativa os circuitos de recompensa do cérebro da mesma forma que experiências relacionadas ao amor, o sexo, as apostas, as drogas e a música.
A descoberta é de pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Utah, nos EUA. “Estamos apenas começando a entender como o cérebro participa de experiências que os fiéis interpretam como espirituais, divinas ou transcendentes”, diz o autor sênior e neuroradiologista Jeff Anderson. “Nos últimos anos, as tecnologias de imagem cerebral amadureceram de maneiras que nos permitem abordar questões que existem há milênios”.
Especificamente, os pesquisadores se propuseram a determinar quais redes cerebrais estão envolvidas na representação de sentimentos espirituais em um grupo, os devotos Mórmons, por ex., criando um ambiente que desencadeou nos participantes algo que eles chamam “sentir o Espírito”. Identificar esse sentimento de paz e proximidade com Deus em si mesmo e nos outros é uma parte criticamente importante da vida dos Mórmons – eles tomam decisões baseadas nesses sentimentos, os tratam como confirmação de princípios doutrinários, e os enxergam como um meio primário de comunicação com o divino.
Durante os exames de ressonância magnética, 19 jovens adultos membros da igreja – incluindo sete do sexo feminino e 12 do sexo masculino – realizaram quatro tarefas em resposta ao conteúdo destinado a evocar sentimentos espirituais. O exame de uma hora incluiu seis minutos de descanso, seis minutos de controle audiovisual (um vídeo detalhando as estatísticas de adesão de sua igreja), oito minutos de citações de Mórmon e líderes religiosos mundiais, oito minutos de leitura de passagens familiares do Livro de Mórmon, 12 minutos de estímulos audiovisuais (vídeo produzido pela igreja de cenas familiares e bíblicas, e outros conteúdos religiosamente evocativos), e mais oito minutos de citações.
Os pesquisadores coletaram avaliações detalhadas dos sentimentos dos participantes, que, quase universalmente, relataram experimentar os tipos de sentimentos típicos de um culto intenso. Eles descreveram sentimentos de paz e sensações físicas de calor. Muitos estavam em lágrimas até o final do exame. Em um experimento, os participantes pressionaram um botão quando sentiram um pico de sentimento espiritual enquanto observavam estímulos produzidos pela igreja.
— Resposta Física
“Quando nossos participantes do estudo foram instruídos a pensar sobre um salvador, sobre estar com suas famílias para a eternidade, sobre suas recompensas celestiais, seus cérebros e corpos responderam fisicamente”, diz o autor principal Michael Ferguson, que realizou o estudo como estudante de pós-graduação em bioengenharia na Universidade de Utah.
Com base nos exames, os pesquisadores descobriram que poderosos sentimentos espirituais foram reprodutivamente associados à ativação no núcleo accumbens, uma região crítica no processamento de recompensas do cérebro. A atividade de pico ocorreu cerca de 1 a 3 segundos antes de os participantes pressionarem o botão e foram replicadas em cada uma das quatro tarefas. Como os participantes estavam experimentando sentimentos de pico, seus corações batiam mais rápido e sua respiração ficava mais profunda.
Além dos circuitos de recompensa do cérebro, os pesquisadores descobriram que sentimentos espirituais estavam associados com o córtex pré-frontal mediano, que é uma região cerebral complexa, ativada por tarefas envolvendo avaliação, julgamento e raciocínio moral. Os sentimentos espirituais também ativaram regiões cerebrais associadas à atenção focalizada.
— Veja o que acontece com o cérebro de quem acredita em uma religião
O mundo parece estar dividido entre pessoas religiosas e pessoas que acreditam na ciência. De acordo com um novo estudo, essa divisão não é acidental: o nosso cérebro se comporta de forma diferente quando vê o mundo através dos dois posicionamentos. Os pesquisadores da Universidade Case Western Reserve e da Faculdade Babson (EUA) chegaram à essa conclusão através de oito estudos independentes que envolviam questionários e experimentos. Cada um tinha entre 159 e 527 adultos e comparava os resultados daqueles com crenças em um deus ou em um espírito universal e aqueles sem religião.
— Pensamento crítico x empático
A pesquisa indica que aqueles com crenças espirituais ou religiosas aparentam suprimir uma rede cerebral usada para o pensamento analítico. Assim, podem se engajar no pensamento empático. Igualmente, os não religiosos suprimem o pensamento empático para usar o analítico.
Tony Jack, o principal pesquisador desse trabalho, explica que deixar de lado o pensamento crítico para acreditar no sobrenatural faz sentido para nos ajudar a atingir a compreensão social e emocional.
Essas duas redes do cérebro se revezam para encarar as diferentes situações do nosso dia a dia. Apesar disso, os pesquisadores afirmam que nenhum dos dois tem o monopólio para trazer as grandes respostas da vida. A natureza humana permite que exploremos nossas experiências usando os dois padrões de pensamento.
“A religião não deve nos falar sobre a estrutura física do mundo, esse é o trabalho da ciência. A ciência deve informar nossa razão ética, mas não pode determinar o que é ético ou como devemos construir sentido e objetivo para nossas vidas”, acrescenta Jack.
Os pesquisadores também argumentam que a ciência e religião não devem ser sempre vistas como forças opostas. O estudo aponta que vários grandes cientistas tiveram crenças religiosas, incluindo 90% dos ganhadores do Prêmio Nobel. Entender a interação entre esses dois tipos de pensamento, porém, pode enriquecer os dois lados.
“Longe de estar sempre em conflito com a ciência, dentro das circunstâncias corretas as crenças religiosas podem promover a criatividade científica”, conclui o pesquisador
— Apego a líderes e ideais religiosos
“A experiência religiosa é talvez a parte mais influente de como as pessoas tomam decisões que afetam a todos nós, para o bem e para o mal. Entender o que acontece no cérebro para contribuir com essas decisões é realmente importante”, diz Anderson. Ainda não sabemos se os fiéis de outras religiões responderiam da mesma maneira. Outras pesquisas sugerem que o cérebro responde de forma bastante diferente às práticas meditativas e contemplativas características de algumas religiões orientais, mas até agora pouco se sabe sobre a neurociência das práticas espirituais ocidentais.
“A associação de feedback positivo, música e recompensas sociais com crenças religiosas ou doutrinas pode fazer com que essas doutrinas tornem-se intrinsecamente gratificantes”, afirma Anderson. “Esses mesmos mecanismos podem ajudar a explicar o apego aos líderes e ideais religiosos. Pode ser que uma mulher luterana em Minnesota (EUA) e um seguidor do ISIS (ISIL) na Síria possam experimentar os mesmos sentimentos nas mesmas regiões do cérebro por sistemas de crenças completamente diferentes, com diferentes consequências sociais”, compara.
O estudo é a primeira iniciativa do Projeto Cérebro Religioso, lançado por um grupo de pesquisadores da Universidade de Utah em 2014, que visa compreender como o cérebro opera em pessoas com profundas crenças religiosas e espirituais.
Visão pessoal…
Religião e guerra são dois temas que muitas vezes se cruzam. Desde as Cruzadas em 1095 até hoje em dia, vimos inúmeros conflitos travados em nome da fé. E enquanto muitos acreditam que as guerras explodiriam se não houvesse a religião e que a fé é, na realidade, uma grande promotora da paz, para outros a guerra e a religião não podem se separar. Desde muito tempo, a guerra e a religião se encontram em uma relação complicada e, muitas vezes, tensa. Mas será que a religião alguma vez é a causa principal de uma guerra? Ou simplesmente um veículo utilizado para incitar as tropas, dividir sociedades e saquear países? A causa original de qualquer guerra ou conflito é complexa e cheia de nuances, e há muitos fatores em jogo, como poder, ideologia, dinheiro, território, politica, etc. A origem da palavra religião, é religar, o ato de nos religarmos ao Pai-Mãe Criador, ou seja, se necessitamos nos religar, é porque já fomos ligados, ninguém se religa a alguma coisa, sem antes, no passado ter estado ligado, esta é a situação de nós seres humanos, éramos unos com o Criador, e de repente, caímos na roda das reencarnações, perdendo nosso vinculo com o cosmos. Mas como acontece sempre, o homem tem a necessidade de muletas, algum ou alguém que o sustente, que seja responsável ou responsabilizado, pelas graças e ou desgraças em sua vida, difícil nos reconhecer como únicos responsáveis pela felicidade ou desgraça alcançada; sempre, na nossa maneira de ver as coisas enquanto involuídos que estamos, teremos algum ou alguém como responsável ou co-responsável pelos nossos momentos. Muitas das religiões atuais, não irão sobreviver no futuro, mas apenas porque elas não irão se remodelar, terão de sofrer profundas mudanças positivas que tratarão o homem como o centro individual do universo e não mais a divindade como o salvador e/ou punidor. As religiões que continuarem a se tratarem como o único caminho, de modo exclusivistas e dogmáticos, estarão fadadas a extinção, pois não trabalham o principal, o Amor a todos… sem distinção.
Inspiração…
Trabalhos da Dra. Elaine Howard Ecklund, diretora fundadora da Rice University’s Religion and Public Life Program
Trabalhos das universidades e pesquisadores referidos no texto
Recomendo…
Fonte – Monicavox